Número de mulheres no setor de transporte rodoviário de cargas ainda é reduzido

Número de mulheres no setor de transporte rodoviário de cargas ainda é reduzido

Machismo, falta de valorização, insegurança e infraestrutura são motivos que impedem ou limitam a participação de público feminino do segmento

Redação Chico da Boleia

Essencial para economia e desenvolvimento do país e responsável por distribuir mais de 70% das mercadorias pelo território nacional, o transporte rodoviário de cargas ainda é formado, majoritariamente, por homens. Menos de 1% do total de motoristas desse segmento é de mulheres.

De acordo com o último levantamento feito pela Confederação Nacional do Transportes (CNT), sobre o perfil do caminhoneiro no Brasil, o segmento é composto 99,5% por homens, contra 0,5% de mulheres.

Já um levantamento feito pelo o SEST SENAT (Serviço Social do Transporte), destaca que dos mais de 900 mil vínculos trabalhistas no setor de transporte no Brasil, 120 mil são mulheres. As que mulheres atuam como motoristas somam pouco mais de 4 mil, incluindo os carros auxiliares das empresas, não somente caminhões e carretas.

De acordo com a diretora-executiva da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística), Edmara Claudino, a ascensão das mulheres no setor, ainda que de forma lenta, merece ser celebrada. “Percebemos inovações com a chegada das mulheres, isso é muito importante. Vejo também que, em outras áreas, a mulher tem ganhado seu espaço: temos bons exemplos na política, como as ministras da Agricultura e do Supremo Tribunal Federal, e tivemos recentemente a primeira mulher a ocupar o Tribunal Superior do Trabalho. É assim que conseguiremos nosso espaço, mostrando trabalho e competência. Essa divergência de gênero não deve mais existir”.

Apesar dos dados não serem otimistas para o público feminino, a realidade é que o mercado tem apresentado mudanças para atender a demanda dessas profissionais, bem como valorizá-las.

No Dia Internacional das Mulheres, comemorado hoje (8), é fundamental não só destacar a participação das trabalhadoras, bem como a necessidade por igualdade nas contratações em diferentes cargos, salários, acesso a saúde e a educação.

Alguns dos principais problemas enfrentados pelo público feminino no setor de transporte rodoviário de cargas, até hoje, são o machismo e o assédio. A falta de segurança e de infraestrutura nas estradas também são pontos que prejudicam o desenvolvimento e a participação das mulheres no segmento.

Cresce ocupação de cargos no TRC em São Paulo

Um estudo feito pelo Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC) revelou que, em 2021, o público feminino aumentou em 61% nas ocupações de cargos do TRC no estado de São Paulo, em comparação com 2020.

O estudo feito pelo órgão de pesquisa, que é associado ao Sindicato das Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região (SETCESP), aponta que das 32.094 admissões, as áreas com mais destaque na ocupação das mulheres foram as administrativas e comerciais, com representatividade de 52% e 56% sobre a participação masculina, respectivamente.

– À frente de um ambiente profissional predominantemente masculino, oportunidades e espaço para mulheres tornaram-se pautas recorrentes no segmento. Empresas transportadoras começaram a implementar programas e projetos para atingir essa igualdade de gênero, a fim de obter um mercado mais íntegro e sem preconceitos. Contudo, setores internos dominam a quantidade de mulheres, enquanto o operacional ainda requer muitos ajustes, visto que, no ano passado, foram registradas 13.741 contratações femininas, ao lado de 125 mil masculinas. Apenas para o cargo de motorista, as mulheres correspondem a 1,51% e os homens 98,49%, para um total de 70.641 recrutamentos – destaca o levantamento.

Ações valorização e incentivo a participação das mulheres no setor

Diante da necessidade de mudar o cenário e a forma como as empresas se comportam em relação a contratação de mulheres, muitos movimentos dentro do setor de transportes foram criados. Um deles é o Vez e Voz – Mulheres no TRC, uma iniciativa do SETCESP, cujo objetivo é valorizar as trabalhadoras desse setor.

Em entrevista especial para o Chico da Boleia, uma das criadoras do projeto e presidente executiva do SETCESP, Ana Jarrouge, explica que Vez e Voz surgiu em decorrência da própria experiência profissional dentro do segmento. “Senti a necessidade de incentivar as mulheres, por meio das entidades de classe, pensando sempre na valorização das que já trabalham no setor, fomentando o crescimento profissional das mesmas, principalmente ocupando cargos de liderança, e atraindo novos talentos, incluindo cargos operacionais, devido ao número reduzido no quadro atual”.

Desde sua criação, em 2020, o projeto realiza reuniões mensais com foco em assuntos relevantes para o público feminino como maternidade, assédio, capacitação, dentre outros que possam impactar a atuação das mulheres no setor de transporte rodoviário de cargas.

Apesar de ter sido desenvolvimento no primeiro ano de pandemia e ter se adaptado as restrições impostas pelo período, o Vez e Voz já conta com mais de 40 parceiros e, recentemente, lançou na última edição da FENATRAN o Guia de Boas Práticas para ampliar a participação de mulheres no setor.

O Guia é gratuito e oferece sugestões de ações, já implementadas por algumas empresas de transporte e logística, para modificar ou melhorar as políticas de gestão para atração, retenção e desenvolvimento de talentos femininos.

– O movimento é importantíssimo, com ótimos resultados para as empresas que decidiram investir na contratação de mulheres, focando em melhorias para atender as demandas, adotando políticas para acolhimento dessas profissionais, independente da experiência, e ajudando ainda na capacitação das mesmas – explica Ana.

Jarrouge destaca que muitas empresas são engajadas e com propósitos para tratar desse tema e se reconhecem nas histórias contadas pelo movimento Vez e Voz. “A longo prazo vamos ter resultados devido a consistência e cuidados com esse público. A exemplo disso, tivemos um crescimento de CNHs emitidas para as mulheres entre 2021 e 2022. Do total de habilitações emitidas a partir da categoria B, houve um crescimento de 4,7%. Já na categoria E, o aumento foi de 9%”.

Problemas identificados pela iniciativa

O contato constante com mulheres ligadas ao setor de transporte e as histórias compartilhadas durante os encontros realizados revelam que o machismo (“brincadeiras”, comentários inoportunos, interrupção de discurso, preconceito com ocupação de cargos mais altos e também de mulheres com filhos) ainda é um dos principais problemas enfrentados pelas trabalhadoras.

Jarrouge conta que a falta de flexibilidade de jornada de trabalho também é algo que impede ou limita a participação desse público no segmento. “As mulheres têm mais de uma jornada e as empresas precisam olhar isso com outros olhos e dar oportunidades para as mulheres, assim como criar rotas específicas para motoristas, para que as mesmas possam ter a chance de estar em casa após o período de trabalho”.

A falta de infraestrutura adequada tanto nas empresas quanto nas rodovias e em pontos de coleta também são fatores que devem ser melhorados, inclusive para os homens, que sofrem, principalmente em pontos de parada e descanso, com espaços precários.

Mudanças e expectativas para o setor com o Vez e Voz

Ana destaca que houve melhorias ao longo dos anos e que as empresas estão oferecendo mais oportunidades para as mulheres, tanto como motoristas quanto em cargos de liderança. “Há cinco anos essa mudança não era vista em praticamente nenhum grupo do setor”.

Além disso, o movimento estuda realizar eventos itinerantes para atingir todas empresas em diferentes localidades, por meio das entidades de classe ligadas ao setor. “Queremos ainda promover um programa de mentoria para quem é signatário do movimento, que deve ser lançado ainda esse ano”.

– A nossa expectativa para os próximos anos, por meio do Vez e Voz, é alcançar o maior número de signatários, principalmente em regiões mais isoladas, distantes do grande centro, nas quais esses temais ainda não são tão difundidos ou debatidos – conclui a presidente executiva do SETCESP.

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