Philipp Schiemer: “Recuperação da economia brasileira será lenta e gradual”

Presidente da Mercedes-Benz do Brasil e CEO para América Latina fala sobre a disparada das vendas de caminhões no país e dos desafios do setor

Como manda a cartilha germânica, o executivo alemão Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil e CEO das operações na América Latina, é cauteloso ao analisar a reação da economia brasileira nos últimos anos. Na última semana, em meio às negociações com sindicalistas representantes de seus funcionários na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, unidade que chegou a ser paralisada, Schiemer falou sobre como enxerga a disparada nas vendas de caminhões neste começo de ano. Pelos cálculos da Anfavea, a associação que representa as montadoras, a alta atingiu 78% em abril na comparação com o mesmo mês do ano passado. Para Schiemer, os números são extremamente positivos, mas sobre uma base baixa. Além disso, ele se diz atento aos desafios pela frente, como a alta do dólar, a Copa do Mundo na Rússia e a eleição.

As vendas de caminhões dispararam 78% em abril, segundo a Anfavea. A que o senhor atribui esse crescimento?
As vendas de caminhões são motivadas principalmente pela retomada da economia. Como costumamos dizer, o setor de caminhões transporta PIB. Se os sinais econômicos são mais positivos, sentimos o impacto direto na produção e nas vendas. Entre os segmentos, podemos destacar o desempenho dos extrapesados, que tiveram alta de 98,7% de janeiro a abril comparado ao mesmo período de 2017, puxado principalmente pelo agronegócio. Leves tiveram alta de 22%. Médios de 77% e semipesados de quase 40%, demonstrando que outros setores também voltaram a se movimentar, como logística, mineração, varejo e o transporte de combustíveis, de químicos, de madeira e de bebidas. Mas, claro, devemos lembrar que esse crescimento está sendo observado em relação a uma base muito baixa. No ano passado, o mercado brasileiro de caminhões fechou com quase 49 mil unidades, muito abaixo e distante das 150 mil de 2013, quando as fábricas aproveitavam a capacidade instalada.

É possível afirmar que a crise que atingiu o setor nos últimos anos ficou para trás?
Ainda não. A recuperação da economia brasileira será gradual e lenta, com muitos desafios pela frente, como as definições da reforma trabalhista, a reforma previdenciária, que ainda não saiu do papel, e as eleições em outubro que vão ditar, dependendo da nova liderança, qual o rumo que o país irá tomar, se continuará na retomada de crescimento, com inflação e juros controlados, mais disponibilidade de crédito no mercado e buscando maior competitividade no cenário mundial.

Quais são os planos da Mercedes-Benz para reagir junto com o reaquecimento do mercado?
A Mercedes-Benz liderou as vendas de veículos comerciais nos primeiros quatro meses do ano. Nesse sentido, vamos continuar colocando em prática a nossa estratégia: “As estradas falam. A Mercedes-Benz ouve”, ouvindo as demandas do mercado e entregando as melhores soluções de produtos e serviços para os nossos clientes. Não à toa, anunciamos um novo ciclo de investimento de R$ 2,4 bilhões entre 2018 e 2022 para continuar a modernização de nossas fábricas de veículos comerciais rumo à Indústria 4.0, bem como o desenvolvimento de novos produtos, serviços e tecnologias de conectividade.

No atual ritmo de crescimento, quando a empresa alcançará o limite de sua capacidade produtiva?
O avanço do mercado brasileiro de caminhões se dá de forma muito tímida. E ainda é muito cedo para termos essa previsão. Atualmente, a Mercedes-Benz do Brasil sozinha poderia atender toda a demanda do mercado, visto que as fabricantes operam com cerca de 70% de ociosidade.

Há planos de lançamentos de novos modelos e tecnologias por conta da alta do mercado?
A Mercedes-Benz do Brasil está sempre em constante atualização e renovação de seus modelos e tecnologias. Como exemplo, no ano passado, mesmo com o mercado retraído, lançamos uma nova linha de caminhões, com novidades desde o Accelo, o nosso caminhão leve, até o Actros, o nosso modelo extrapesado. Nesse e nos próximos anos, os clientes podem esperar por novidades. Com o mercado aquecido, mais ainda.

A Selic despencou, mas o dólar disparou. Como isso afeta, para o bem ou para o mal, os planos da Mercedes-Benz?
O que podemos falar é que a volatilidade do dólar dificulta o planejamento dos negócios das empresas tanto no mercado interno como externo. Estamos acompanhando de perto o tema.

Qual diferencial competitivo o campo de provas de Iracemápolis irá gerar para a empresa no Brasil?
O campo de provas de caminhões e ônibus de Iracemápolis, o maior do Hemisfério Sul, consumiu investimento de R$ 90 milhões e nos permitirá atender os clientes do mercado brasileiro e também mercados de exportação de forma mais rápida, encurtando o ciclo de desenvolvimento dos produtos. Para se ter uma ideia, rodamos com um caminhão laboratório por 16 mil quilômetros, o que nos permitiu mapear as regiões brasileiras e construir com precisão técnica as nossas 16 pistas de testes. Isso significa que conseguiremos desenvolver caminhões e ônibus ainda mais robustos e adequados à realidade do Brasil. Com essas pistas, e mais as tecnologias disponíveis de simulação virtual e de conectividade com os engenheiros da Daimler em todo mundo, podemos validar, inclusive, produtos de nossa plataforma global.

Quais são os planos para a fábrica de Juiz de Fora, já que grande parte da produção está concentrada em São Bernardo do Campo?
A estratégia da Mercedes-Benz do Brasil é ter a fábrica de cabinas de caminhões em Juiz de Fora (MG) e a fábrica de caminhões em São Bernardo do Campo (SP) trabalhando em total sinergia para atender às demandas do mercado. A planta de Juiz de Fora, que por sinal é uma das mais modernas do Grupo Daimler no mundo, sempre se manterá estratégica nesse sentido.

A Copa do Mundo e as eleições podem prejudicar o ritmo de recuperação das vendas neste ano?

Tradicionalmente, anos de Copa geram menos negócios. Afinal, estamos falando em menos dias úteis. Enquanto as eleições também podem trazer incertezas ao cenário econômico. De uma forma ou de outra, esses dois fatores acabam atrapalhando uma retomada que poderia ser maior e mais rápida.

Como a matriz, na Alemanha, está olhando para os números de crescimento do mercado de caminhões no Brasil?
Assim como somos muito transparentes com a imprensa e com os nossos colaboradores, também somos com a Alemanha. A matriz sempre acompanha de perto o rumo dos negócios em todos os mercados. Vê com otimismo os sinais da gradual retomada este ano, mas continua a olhar com cautela para os próximos meses, uma vez que temos um cenário de incertezas a partir das eleições. Em longo prazo, evidentemente, a matriz do Grupo Daimler continua a apostar no Brasil como um país de grandes oportunidades para os negócios de transportes. Tanto é que aprovamos o novo ciclo de investimento de R$ 2,4 bilhões de 2018 a 2022.

Quais são os segmentos que estão puxando a alta? 
O segmento de maior crescimento em 2018 é o agronegócio, que já teve alta de mais de 98% de janeiro a abril na comparação com 2017. A safra recorde em 2017 proporcionou aos clientes maior volume de crédito para o início deste ano, o que representa um incentivo a mais para os empresários renovarem suas frotas. Adicionalmente, veremos alta também nos outros segmentos, mas isso se forem mantidos sinais positivos econômicos. No geral, esperamos um crescimento de até 30% nas vendas de caminhões este ano no Brasil.

Fonte: Correio Braziliense

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