Governo aumenta presença de biocombustível no diesel a partir deste sábado

Também foi autorizada elevação do máximo de etanol na gasolina, mas mudança efetiva ainda não tem data para entrar em vigor

 Começa a valer nesse sábado, dia 1º de novembro, a nova regra para a presença de biodiesel na mistura do diesel. O biocombustível — que correspondia a 5% do diesel que saía das bombas dos postos até julho, quando passou para 6% — passará a representar 7% da mistura do combustível.

 O novo percentual consta da lei federal 10.033 sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 24 de setembro deste ano. O texto permite que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) reduza o percentual de biodiesel, “por motivo justificado de interesse público”, para até 6%.

 Para o Ministério de Minas e Energia (MME), o aumento possibilita aproveitar melhor a capacidade de produção de biodiesel no país, beneficiando os agricultores familiares, uma vez que a lei determina que o biocombustível produzido para a adição obrigatória venha, preferencialmente, de matérias primas provenientes da agricultura familiar.

 Outra vantagem apontada pelo MME é a redução dos “níveis de emissões de gases e, em especial, a de materiais particulados contribuindo assim para melhorias da qualidade do ar nos centros urbanos, e das emissões de gases de efeito estufa”.

 Porém, a mudança não é consenso entre os setores envolvidos, e a vantagem de supostamente poluir menos também é questionada.

 Para a professora de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ Suzana Kahn, a diferença de poluentes é muito pequena. Primeiro porque a mudança é de apenas 1% e também devido às especificidades de sua produção:

 — O processo de produção de biodiesel não tem os benefícios que o processo de produção de álcool tem, como usar o bagaço da cana para gerar energia para a produção do etanol. Em termos de poluição local, a vantagem do biodiesel é não ter enxofre em sua composição. Mas, nesta quantidade, praticamente não faz diferença — ressalta a especialista.

 E a redução das emissões, acrescenta Suzana Khan, ainda seria comprometida pela necessidade de transportar o biodiesel em caminhões desde os locais de produção no interior do Brasil até as distribuidoras e postos em outros locais.

BIODIESEL DEGRADA MAIS RÁPIDO

 Outro ponto que preocupa é a estabilidade do biodiesel que, por ser biocombustível, se degrada mais rápido. Maria Aparecida Schneider, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do município do Rio de Janeiro (Sindcomb), disse que já houve problemas, situação que melhorou, mas afirmou que ainda é preciso esperar a mudança se efetivar para ver as consequências.

 — Temos uma preocupação com o biodiesel porque, se ficar muito tempo dentro do tanque, ele cria uma espécie de borra que já tem trazido problemas para alguns revendedores. Mas (a mudança) é uma política que já está estabelecida, e temos que lidar com essas questões difíceis tanto para distribuição quanto para revenda — pontuou.

 Com a mudança de sábado, 2014 acumulará um aumento de dois pontos percentuais na presença de biodiesel. Apesar de parecer pouco, isso equivale a um volume de biocombustível 40% maior para atender à demanda. A alteração preocupa os distribuidores. Alisio Vaz, presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) disse que o sindicato debateu o assunto durante um ano com o governo.

 Entre os temas discutidos estavam o aumento de custos e da necessidade de caminhões rodando para transportar o biodiesel, que não é bombeado das refinarias, como no caso do diesel. O transporte é um ponto delicado para Vaz, uma vez que qualquer problema no meio do caminho pode comprometer a qualidade do combustível e o abastecimento dos postos.

 Segundo Kahn, o consumo não chega a ser impactado, já que os dois tipos de diesel fornecem praticamente o mesmo potencial energético.

MÁXIMA DE ETANOL NA GASOLINA AUMENTA

 O texto da lei também permite o aumento da presença do etanol na gasolina. O teto passa dos atuais 25% para 27,5%. Porém ele não determina que a quantidade seja imediatamente alterada. Segundo o Ministério de Minas e Energia, isso ainda depende do resultado de testes conduzidos pela Petrobras e pelo ministério, e também de uma aprovação do Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (CIMA). A lei define apenas a quantidade máxima e a mínima (18%) de etanol.

 A aumenta da demanda pelo etanol anidro não deve aumentar o preço dele, pelo menos é o que diz Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA):

 — Se não tivesse aumentado a capacidade de produzir etanol anidro, acho que poderia ocorrer esse aumento, mas, como houve esta expansão, inibe-se uma perspectiva de alteração de preços.

 Uma das vantagens do etanol seria, como no caso do biodiesel, a menor emissão de poluição. Henrique Pereira, membro da comissão técnica de motores da SAE Brasil, relativiza a redução da poluição, apesar de reconhecer que a produção do etanol é menos poluente — desde que o canavial não seja queimado no processo.

 Pereira também lembrou que o etanol emite aldeído para a atmosfera e que, quando a queima é incompleta, um pouco de álcool puro é liberado.

POSSÍVEIS PROBLEMAS E AUMENTO NO CONSUMO PREOCUPAM

 Assim como no caso do diesel, a alteração não é unanimidade. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que inicialmente se posicionou contra já que a medida poderia trazer prejuízos aos motores movidos exclusivamente a gasolina, informou que não vai comentar a mudança enquanto não forem divulgados os resultados dos testes nos carros a gasolina. Enquanto isso, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), afirmou acreditar que os motociclistas podem sentir diferença:

 — Nos motores movidos a gasolina, que equipam a maior parte da frota de motocicletas em circulação no país, a tendência é que haja uma aceleração no processo de deterioração dos componentes que agem diretamente com o combustível como bomba de combustível, mangueiras, bico injetor, tanque, componentes do carburador e retentores — listou Sérgio Martins, gerente de relacionamento da Abraciclo.

 A recomendação de Martins é realizar a manutenção periódica para evitar possíveis dores de cabeça.

 Quando o aumento se tornar efetivo, os carros flex (que podem ser abastecidos tanto com álcool quanto com gasolina) não serão afetados, explicou Pereira, uma vez que estão preparados para rodar com os dois combustíveis em qualquer proporção. Porém, veículos movidos apenas a gasolina, como os mais antigos e os importados, podem ser afetados.

 Entre os possíveis problemas está um aumento no consumo que o especialista estima em 1%:

 — Isso representa uma perda de cerca de meio litro de gasolina a cada tanque. Parece pouco, mas isso é suficiente para rodar aproximadamente cinco quilômetros. Se multiplicar pelo número de tanques por ano, considerando uma média de um tanque por semana, resulta em um grande impacto no fim das contas.

 Ele ressaltou que, aumentar a porcentagem de etanol sem mexer no preço da gasolina, significa cobrar o mesmo valor por uma quantidade menor de gasolina. Soma-se a isso o fato de que o álcool demanda maior quantidade de combustível para entregar a mesma quantidade de energia, em comparação com a gasolina, o que explica o consumo maior.

 — Eu consumo mais, mas pago o mesmo. Ou seja, rodar acaba saindo mais caro.

Motoristas que têm carro a álcool sabem que dar a partida nas manhãs mais frias pode ser uma tarefa difícil. E o aumento na presença de etanol reacende esse temor, mas Pereira minimiza o risco:

 — Isso vai depender do modelo do veículo e do fabricante. Porém, não é algo geral porque a quantidade de gasolina ainda é grande.

 De acordo com Henrique Pereira, como é mais corrosivo, o etanol pode afetar peças de borracha ou as metálicas não preparadas para tal concentração, embora admita que parte do desgaste já aconteceu nos motores que rodam com a gasolina atual.

 — Fica a preocupação com os carros importados, porque os motores, como são desenvolvidos mundialmente, são projetados para uma porcentagem menor de etanol.

 Fontes do governo disseram à Reuters que os veículos movidos apenas a gasolina passaram nos testes de desempenho encomendados pelo governo conduzidos pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes).

INDEFINIÇÃO DOS PREÇOS

Como o etanol anidro é mais barato do que a gasolina nas distribuidoras (média de R$ 1,66 para o etanol e R$ 2,55 para a gasolina), um dos pontos abordados é a possível redução no preço já na distribuidora. Mas o presidente-executivo do Sindicom disse que a diminuição ainda não foi determinada, já que o governo ainda não ordenou a mudança de fato na quantidade de etanol adicionada à gasolina.

 Por sua vez, o preço do biodiesel poderia subir com a implementação da lei:

 — Existe um ligeiro aumento de custo. O biodiesel não só é um pouco mais caro que o diesel,ele também tem que ser transportado em distâncias mais longas, como do Mato Grosso e de Goiás, onde é produzido. Isso também afeta o custo.

 As mudanças dos preços nas bombas dos postos de combustível, diz Schneider, vão depender da política de precificação adotada pelas distribuidoras:

— A margem do revendedor é muito apertada para fazer algo muito diferente do valor que o distribuidor passa. Então, se o preço for menor, ele será repassado, e se for maior, também — acrescentou Schneider, lembrando que é esperado para breve um reajuste no preço dos combustíveis.

Fonte: O globo / Ntc & Logistica

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