Chico da Boleia conversa com especialista em transporte rodoviário de Portugal

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A 17ª edição da Transposul deu grande enfoque às apresentações durante o Congresso que acompanhou a Feira. Entre os palestrantes que falaram ao público, esteve presente o Presidente da Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias de Portugal, Gustavo Paulo Duarte, quem falou sobre a logística na União Europeia.

Chico da Boleia não perdeu a oportunidade e conversou com o português que falou sobre mercado internacional de caminhões e legislação do setor.

Chico da Boleia: Gustavo, qual é o tamanho do mercado de transporte de cargas na Europa?

Gustavo Paulo Duarte: Não consigo te dizer o tamanho do transporte rodoviário de cargas na Europa. Em Portugal eu consigo dizer. O da Europa é difícil de medir por várias razões: tem várias modalidades de transporte, e eu represento o modelo de transporte rodoviário de mercadorias. Mas posso te dizer que em Portugal o setor dos transportes representa cerca de 7 mil empresas e que gera um volume de negócios de cerca de 2 mil milhões de euros mais ou menos. Espanha, por exemplo, é três vezes maior que Portugal nesse mercado. França produz duas vezes mais que França. São valores muito grandes dentro da Europa.

Chico da Boleia: Em função da comunidade econômica europeia, os transportadores de Portugal acabam transportando para outros países da Europa…
Gustavo Paulo Duarte: Sim, nós temos uma comunidade europeia com livre circulação de bens e pessoas, tanto que qualquer pessoa pode transitar livremente em qualquer país e também as mercadorias o podem fazer. E isso traz competitividade aos países como trazer mercadorias de Portugal pra Alemanha ou pra França, da Itália para França. Então todos os países fazem trocas comerciais por rodovias. Muitos caminhões fazem isso diariamente.

Chico da Boleia: Como é que fica a regulamentação do transporte? Portugal tem sua regulação, ela serve também para os outros países?

Gustavo Paulo Duarte: Portugal e todos os países tem uma base de regulação, mas cada país pode ser mais restritivo. Menos é que nunca pode ser. Portanto, tem uma lei que diz que nenhum transportador pode carregar mais do que 40 toneladas brutas. Europa diz: abaixo dos 40 tudo, acima dos 40 nada. E depois cada país pode regular, para baixo, como queira. Não pode é dizer: “quero 45 ou 60”. Há uma base e depois cada país se ajusta à sua realidade.

Chico da Boleia: Como eu te perguntei na palestra como fica a questão dos autônomos? Aqui no Brasil nós temos a figura da pessoa física, aquela pessoa que não constitui empresa. Como funciona isso em Portugal?

Gustavo Paulo Duarte: Nenhuma pessoa em Portugal pode ser o dono do caminhão conduzido. Tem que ter uma empresa. Porque para ter um alvará de transporte e poder vender o serviço de transporte de mercadoria. E, portanto não há a figura do individual, há a figura do empresário. Pode ser só um caminhão e eu ser o empresário, e eu ser o motorista. Mas tem que ter uma empresa, uma figura jurídica.

Chico da Boleia: E a profissão do motorista, do carreteiro, ela tem uma tradição em Portugal de pai pra filho?

Gustavo Paulo Duarte: 95% das empresas em Portugal são familiares, passa de pai pra filho. O caso da minha empresa que tem 69 anos já, portanto é uma empresa que começou pelo meu avô, já passou pelo meu pai, agora eu sou a terceira geração. Mas a tradição é efetivamente empresas familiares e passa de geração para geração.

Chico da Boleia: A questão do custo do seguro, do bem, do caminhão, e do seguro da carga. É muito alto lá?

Gustavo Paulo Duarte: Não, é muito diferente daqui, não é uma questão de valor, nós gerimos as coisas de uma forma totalmente diferente. Existe uma lei na Europa que diz que a responsabilidade do transportador é sobre a carga. Então a responsabilidade do transportador que levar a carga, por exemplo, pode ser de 200 mil euros, ou 600 mil reais. Essa é a responsabilidade do transportador. Assim tem a responsabilidade do dono da carga. Eu levo o mesmo preço de frete de
A para B se eu levar garrafas de água ou se levar barras de ouro. Porque o preço da mercadoria é que varia, e o preço da mercadoria quem tem que ter um seguro específico para uma mercadoria mais cara, acima da minha responsabilidade, é o dono da carga não o transportador. Portanto, a questão do seguro, nós pagamos um seguro por veículo ao ano e pagamos um seguro de carga por faturação da empresa ao ano. Eu não tenho que dizer que hoje eu vou transportar agua, amanhã vou transportar azeite, depois vai transportar seus eletrodomésticos. Eu pago um seguro e cobro até o meu limite de responsabilidade e acima disso é problema do dono da carga.

Chico da Boleia: Em Portugal qual o custo de um pedágio?

Gustavo Paulo Duarte: Em Portugal temos uma média de cerca de 40 a 50 cêntimos o quilômetro, sendo que se for 50 cêntimos o km temos um trajeto de 300 km que custa cerca de 120, 150 euros.

Chico da Boleia: É um pedágio caro!

Gustavo Paulo Duarte: Nós para termos as estradas que temos, temos que pagar. A Europa tem a lógica do utilizador pagador. Se anda, paga! Aquilo que nós hoje temos tentado fazer é que as empresas que mais investem, que são mais profissionais, que tem carros mais recentes, menos poluidores e que gastam menos o pavimento, paguem menos do que aqueles caminhões antigos, velhos, que transportam mais peso e poluem mais. O que nós queremos é que quem trabalhe melhor, pague menos, quem trabalha pior pague mais.

Chico da Boleia: Como é a prospecção de carga? Lá vocês tem alguma bolsa eletrônica de fretes?

Gustavo Paulo Duarte: Temos muitas bolsas eletrônicas de fretes. Temos duas ou três bolsas europeias que são a base de trabalho de grande parte das empresas. E que trabalham muito bem. Tem seguro de crédito associado, se o cliente não paga o frete a bolsa paga. Se o cliente não pagou o transportador ele sai do sistema e nunca mais pode usar a bolsa. Existe uma responsabilidade e um funcionamento muito bom das bolsas na Europa.

Chico da Boleia: Quais os principais problemas do mercado de transporte de carga em Portugal e na Europa?

Gustavo Paulo Duarte: A falta de fiscalização dos empresários de transporte, não se pode fazer tudo a qualquer preço e esse é o grande problema. Se as empresas familiares são boas para umas coisas, são más para outras. Ser uma empresa profissional se obriga que se apresentem resultados. Eu acho que essa é a grande lacuna do transporte rodoviário na Europa é a falta de profissionalismo dos gestores das empresas.

Chico da Boleia: Em termos de formação de novos motoristas. Existem cursos ou cada empresa cuida da formação do seu profissional?

Gustavo Paulo Duarte: Não! Há cursos que são obrigatórios para todos, cada vez mais os motoristas são obrigados a terem uma formação que é o Cam e o Fia (Formação Inicial ou Formação de Acompanhamento). De três em três anos tem que fazer a renovação e aí as empresas participam no co-pagamento. Se já foi cobrado da empresa, ela co-participa, se houver outra co-partipaçào ou não houver, o motorista paga do próprio bolso.

Chico da Boleia: Você consegue avaliar a diferença entre o nosso mercado e o de vocês?

Gustavo Paulo Duarte: Eu conheço pouco o mercado daqui, é a primeira vez que venho ao Brasil para questões profissionais, já tinha vindo como turista. Uma das questões que difere o mercado do Brasil e que é prioritária aqui é a regulamentação. E não é só fazer leis, é criar estruturas para que as leis tenham sucesso. Uma das questões mais importantes aqui no Brasil é o tempo de condução e são os pesos das cargas. A Europa resolveu a questão dos pesos das cargas de forma fácil, já que qualquer caminhão que tenha peso a mais a responsabilidade é do dono da carga, nunca é do transportador. Porque o transportador não sabe o que ele carrega. Ou põe uma balança na frente do seu caminhão para pesar, ou a responsabilidade é do dono da carga. Portanto qualquer multa por excesso de carga é do dono da carga. Esta é uma das diferenças. Aqui tem motorista que recebe bônus porque carrega mais. Isso na Europa não existe. É o que é: carrega sempre 40 e como a multa é tão grande o cliente nunca vai carregar mais do que pode.

Redação Chico da Boleia

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