Busca de produtividade estimula negócios

Diante do cenário de pressão de custos, preocupação com sustentabilidade, gargalos logísticos nas rodovias, a entrada em vigor da nova Lei do Caminhoneiro e o fim da carta-frete, as empresas de gestão de frotas têm lançado uma série de produtos para seus clientes, enquanto preveem aumento dos negócios e das carteiras de clientes neste ano. A Ecofrotas, cuja receita em 2013 atingiu R$ 4 bilhões, projeta alta de faturamento neste ano, além de estimar que o número de veículos gerenciados suba de 640 mil para mais de 700 mil em 2014. Em 2002, eram dez mil veículos gerenciados.

 “Deixamos de ser meros fornecedores de cartão de abastecimento e buscamos oferecer soluções mais amplas, como análise de poluentes globais e locais”, diz o gerente de marketing, Rodrigo Somogi. Uma das ferramentas oferecidas aos usuários permite disponibilizar dados sobre quais os melhores veículos para cada rota que a empresa pode ter. “Na hora da renovação da frota, o cliente pode analisar dados de poluentes, o rendimento e o custo mais adequado para ele”, comenta.

 Com as rodovias representando o principal meio de escoamento das cargas, a Ecofrotas tem olhado com atenção a frota pesada que circula pelas estradas. No ano passado, a empresa firmou parceria com a Raízen (joint-venture entre a Cosan e a Shell) para o desenvolvimento de um sistema de gestão de frotas que visa reduzir o consumo de combustível e emissão de gás carbônico em frotas pesadas.

 A previsão das empresas é faturar R$ 2 bilhões em cinco anos. O produto tem como alvo empresas transportadoras, de logística e as que utilizam o transporte rodoviário tanto na cadeia produtiva como no escoamento da produção. Com o novo produto, as empresas terão acesso on-line, em tempo real, a todo o sistema de abastecimento de cada unidade de sua frota. A solução irá permitir que as empresas-clientes reduzam em até 10% as emissões de CO2 de suas frotas. O produto também permite redução média de 10% nos custos com abastecimento de frota dos clientes.

Segundo estimativas de Flavio Azan Távora, gerente nacional da CTF, somente 25% do mercado de transporte utiliza alguma ferramenta de gestão de abastecimento. Ele aponta que o potencial é grande e está principalmente localizado nas frotas de veículos de carga, frotas governamentais e empresas com operações de abastecimento de campo, como agronegócio, construtoras, indústrias, mineradoras. Hoje o trânsito na região metropolitana das grandes cidades brasileiras tem sido um dos maiores problemas das empresas para distribuir sua produção. Esse cenário também tem impacto sobre o consumo de combustível e, por consequência, na emissão de poluentes.

 Nesse contexto, a empresa lança neste ano um novo conceito de cartão de abastecimento, voltado para as frotas urbanas e de veículos leves. “Com este novo produto, vamos aumentar a capilaridade de atendimento de nossos serviços, expandindo a rede atual para mais de seis mil postos credenciados. Os clientes usuários de nosso cartão só abastecerão em postos com qualidade atestada de combustível e que seguem a legislação ambiental e terão suas médias controladas pelo gestor da frota, evitando o uso de carros desregulados e fora da especificação, entre outros benefícios”, destaca.

 Na Ticket Car, os negócios têm crescido à média de 20% ao ano nos últimos anos. Trabalha-se para lançar nesse segundo semestre uma ferramenta de mais fácil uso pelos pequenos empresários para que eles mesmos possam fazer seus próprios relatórios de acompanhamento da frota. Em janeiro, a empresa firmou parceria com a Continental, fabricante de autopeças, que envolveu o lançamento de um serviço eletrônico de telemetria. Com o novo sistema é possível acompanhar quando o veículo foi ligado ou desligado, o número de vezes que parou para abastecer, o valor abastecido, o combustível usado, tempo de ociosidade do veículo.

 São mais de dez sensores espalhados pelo veículo que rastreiam a quilometragem percorrida, o tempo tomado para fazer o serviço e quantas horas o motorista dirigiu. “Isso permite que a condução do veículo seja também avaliada, se ele está em marcha lenta, se está consumindo mais combustível que o que poderia ser consumido”, aponta Gustavo Chicarino, diretor da Unidade de Negócios Ticket Car.

 A empresa também está prestes a anunciar uma parceria para disponibilizar simuladores de condução de caminhões pesados aos seus clientes. A ferramenta pode ser levada aos pátios dos usuários interessados. Nos simuladores, os motoristas poderão treinar diversas situações de condução. “A boa condução pode levar a ganhos operacionais importantes. Se o motorista freia em cima, há um desgaste maior de pneu, freio e combustível. Pode levar até a 40% de redução no consumo de combustível”, analisa Chicarino.

 De olho em ampliar sua participação em uma cadeia de valor bilionária, a Ticket Car adquiriu no ano passado participação majoritária na Repom, que, por sua vez, observa de perto o promissor mercado surgido com a extinção da carta-frete.

 O documento era usado pelo caminhoneiro para destacar as cargas que leva em suas viagens e mostrar o pagamento dos impostos dos produtos transportados. Para substituir a carta-frete, foram criados cartões que permitem aos embarcadores e transportadoras carregar o valor do frete diretamente na solução.

 Além disso, a Repom tem buscado oferecer outros produtos, como seguro de vida e assistência de reboque pelo país todo. Desde o segundo semestre de 2013, já foram apuradas mais de sete mil adesões de caminhoneiros ao seguro de vida.

“Lançamos um aplicativo para celular em que o motorista poderá ter uma calculadora para controlar despesas”, afirma Otavio Farah, diretor operacional da Repom. Cerca de metade dos caminhoneiros atendidos pela empresa já possuem smartphone, número que deverá crescer ao longo dos próximos anos.

 A Sankhya – com cerca de 3.000 clientes corporativos, dos quais cerca de 75% são médias empresas – está atenta às oportunidades. “Ainda há grande potencial a ser desenvolvido e muitas oportunidades de negócios”, afirma o presidente, Felipe Calixto.

 De um lado, existe uma grande massa de empresas que veem a gestão de frotas como um projeto de inovação e procuram implantar uma solução tecnológica desse tipo. De outro, empresas que já dispõem desses sistemas de gestão e estão em busca de produtos e serviços de alta tecnologia, como algoritmos inteligentes para indicar o melhor momento de troca de peças e roteirizações complexas.

Entre estes dois extremos – as empresas que estão ingressando e as de vanguarda – existem todo tipo de necessidades intermediárias. “Considerando essas características, as tendências do setor de gestão de frotas no Brasil são, principalmente, duas: o amadurecimento do mercado, pelo ingresso de um grande volume de novos usuários, e a sofisticação da demanda, pela introdução de tecnologias de ponta”, observa.

Ntc&Logistica  / Fonte: Valor Econômico

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