BR-163: chuvas e atolamentos podem encarecer o frete durante a colheita da soja

As paralisações que aconteceram no ano passado não devem se repetir, mas produtores se preocupam com possíveis atrasos nas entregas da soja e encarecimento do frete

Muitos produtores dependem da rodovia BR-163 para transportar a soja. Porém, um trecho de 90 quilômetros sem pavimentação causa prejuízos recorrentes para quem pretende exportar a soja pelos portos do Norte do Brasil, especialmente quando há a incidência de chuvas, o que causa atolamentos de caminhões e atrasos no transporte.

O município de Sorriso (MT), um dos principais produtores de grãos do Centro-Oeste, depende exclusivamente da BR-163 para o escoamento de grãos com destino aos portos de Miritituba e Santarém, na região Norte do Brasil. Outras rotas que usam a BR-163 seguem para Santos ou Paranaguá, nas regiões Sudeste e Sul, respectivamente. Segundo Luimar Gemi, presidente do sindicato rural de Sorriso (MT), os produtores já estão preocupados com o escoamento da safra 2017/2018. “A gente prevê problemas na rodovia nesta safra porque, em condições normais, o movimento já é acima do que a rodovia comporta. A BR-163 precisaria ser duplicada, é uma necessidade”, afirmou Gemi em entrevista à Farming Brasil.

Pare e siga

No ano passado, muitos caminhões ficaram atolados na BR-163 e os atrasos no transporte chegaram a 15 dias. O setor espera que a safra 2017/2018 seja diferente. “Esse cenário não deve se repetir”, diz Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística da Aprosoja-MT. “O caminhão vai chegar [ao porto], no máximo pode haver atraso de algumas horas ou até um dia.”

O diretor executivo do Movimento Pró-Logística conta que em 2017 foram escoadas 7 milhões de toneladas de grãos pelos portos de Miritituba e Santarém e a expectativa para este ano é de 11 milhões de toneladas. Para garantir a trafegabilidade na BR-163 foi criado o programa Pare e Siga, em operação desde dezembro de 2017. A iniciativa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), com o apoio da Polícia Federal Rodoviária e Exército, deve continuar monitorando a estrada até maio. “O fluxo [de veículos] é muito grande, então eles são obrigados a parar os caminhões quando chove muito”, explica Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística da Aprosoja-MT. Nesses casos, ele orienta que os caminhoneiros devem esperar a redução e o enxugamento da chuva para evitar atoleiros e seguir a viagem em segurança.

Medo e planejamento

Nessa época do ano, quando a incidência de chuvas é maior, as tradings optam em levar a soja para a região Sul ou Sudeste, mesmo com distância maior e frete mais caro, em vez de arriscar a ter prejuízos com o fretamento até Miritituba, no Norte do Brasil. Segundo o presidente do Sindicato Rural de Sorriso, grande parte da produção desse município e de Lucas do Rio Verde é levada até Paranaguá. “A gente usa muito o escoamento para a região Norte na segunda safra, quando chove menos”, diz Lumi. “As empresas optam em levar a soja para o Sul para evitar que a carga fique parada [na rodovia]. Ano passado foi o primeiro ano de movimento forte e deu problema. A empresa compradora tem prazo a cumprir, eles não podem ficar à mercê de uma rodovia que não funciona.”

Preço do frete

Em alguns casos, a mudança de porto faz o preço do frete subir consideravelmente. Enquanto que utilizando a rodovia BR-163 para transportar a soja de Sorriso (MT) para Miritituba custa R$ 195 por tonelada, o frete para o Porto de Santos custa R$ 265 por tonelada e para Paranaguá fica em R$ 240 por tonelada, de acordo com levantamento do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) em janeiro de 2018.   As condições difíceis da rodovia BR-163 são capazes de alterar o cenário. Durante o pico de colheita da safra passada, o frete para Miritituba chegou a custar R$ 210. “Quando a BR-163 for pavimentada e não tiver mais nenhum problema, a redução do valor do frete está estimada em 34%”, afirmou Edeon, do Movimento Pró-Logística, durante entrevista à Farming Brasil. “Hoje estamos pagando um frete muito alto em função do período chuvoso.” A previsão é de que as obras sejam concluídas e o preço do frete seja reajustado a partir da safra 2019/2020.

Impacto para o produtor

O aumento do custo do frete afeta diretamente o produtor rural, já que as tradings descontam esse valor do preço pago pelos grãos. “Esperamos que as nossas lideranças enxerguem que a região contribui com a balança comercial e faça os investimentos necessários na BR-163”, diz Lumi.

Vendas futuras atrasadas, tráfego menor

Como as vendas futuras de soja estão atrasadas nesta safra, o volume de soja escoado nesse período deve ser menor na comparação com o ano passado. De acordo com o Imea, a comercialização da safra de soja 2017/2018 chegou a 42,40% na última semana, atraso de 7.69 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. “O que a gente imagina é que não tenha um pico de escoamento tão intenso como no ano passado”, diz Lumi. “Mas isso é só até aparecer um preço melhor, chegar um navio vazio no porto e todo mundo começar a fazer venda e ir para a estrada.”

Histórico de prejuízos

A rodovia BR-163, estrada que liga o Rio Grande do Sul ao Pará, é uma das principais rotas para o escoamento da produção agrícola do Brasil, com importância estratégica especialmente para a rota de exportação da soja produzida na região Norte de Mato Grosso. A BR-163 corta os estados de Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. São mais de 3.400 quilômetros de extensão que cruzam aos principais municípios produtores de milho e soja.

Apesar de sua importância para o agronegócio, falta investimento em melhoria e manutenção da rodovia BR-163. Tradicionalmente, os produtores, caminhoneiros e empresas que comercializam grãos enfrentam prejuízos a cada safra causados pelo déficit logístico. Para quem precisa da BR-163, o trecho mais crítico está entre os estados de Mato Grosso e o Pará, onde há 90 quilômetros de rodovia sem pavimentação. Esse trecho está no coração da rota que liga os municípios mato-grossenses aos portos do chamado “Arco Norte”, um importante destino para exportar a soja.

Em 30 quilômetros desse trecho foi feito um revestimento primário, o que facilita a circulação dos caminhões. Porém, os 60 quilômetros restantes seguem sem pavimentação. Quando chove, a situação fica ainda mais complicada nesse trecho de terra. Atolamentos de caminhões atrasa as exportações de soja e gera graves prejuízos financeiros ao setor. Com a colheita da safra 2017/2018 ganhando força e a chegada do período chuvoso nessa região, a trafegabilidade na BR-163 preocupa. O setor se vê obrigado a enviar a soja para portos mais distantes e arcar com um frete mais caro.

Prejuízos em 2017

Em fevereiro de 2017, o excesso de chuvas inviabilizou o tráfego nessa região, causando prejuízos altíssimos e deixando centenas de caminhoneiros e cargas paradas na via. Nesse período, além de muita fila, o número de caminhões trafegando na na BR-163 foi reduzido de 800 para 100 por dia.

Cálculos da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) indicam que para cada dia em que os portos ficaram impedidos de embarcar mercadorias, o prejuízo para as empresas transportadores foi de US$ 400 mil. Atualmente, é possível acompanhar relatórios diários nos períodos da manhã e da noite publicados no site www.br163pa.com. De acordo com informações do DNIT, a plataforma apresenta também a previsão do tempo na BR-163/PA e orientações para passagem na rodovia.

Fonte: Farming Brasil

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